sexta-feira, 15 de agosto de 2008
Os vizinhos de cima
O actual Janeiro é escrito por jornalistas-bomba, que carregam à cintura um envelope com carta de despedimento, pronto a rebentar a qualquer altura. Eles não sabem, porque não querem ver, que o despedimento colectivo à moda de Eduardo Costa não foi fruto do acaso: é um modus faciendi de uma administração corrupta e desonesta.
O seu emprego está preso por fios, porque foram chamados para apagar fogos num momento difícil do mais do que centenário jornal. Podem olhar a redacção genuína do Janeiro e imaginar um espelho, a sua própria sentença, que ainda não transitou em julgado.
Habituei-me a respeitar os 'vizinhos de cima'. Eles escreviam para ninguém, num jornal sem leitores, sem qualidade, sem ponta por onde se pegasse. Nunca compreendi a razão de ser daquele Norte Desportivo. Talvez fosse um modo de segurar uma redacção para que esta pudesse acudir quando uma genuína fosse desrespeitada. Talvez.
Os 'vizinhos de cima', segundo as minhas pesquisas, são um grupo de jornalistas que começou a carreira naquele jornal. Acabados de sair da faculdade, passaram a receber ordens de pessoas que, segundo sei, não tinham formação na área do jornalismo. Segundo 'fontes oficiais', os bagos foram caindo da uva, porque as condições de trabalho não eram convidativas (alguns nunca tiveram contrato, outros continuam sem contrato), ou porque perceberam que escreviam palavras levadas pelo vento.
Sempre olhei os 'vizinhos de cima' com estima. Eram (e são) jovens, queriam crescer na profissão. Mas o talento que eventualmente têm perdeu-se ou encurralou-se nos vícios de quem não faz a menor ideia do que é o jornalismo, do que é motivar uma equipa, do que é respeitar, do que é olhar nos olhos. Talvez uma aulas com um treinador de futebol fossem frutuosas. Quem sabe?
Os vizinhos de cima, afinal, esmagaram-nos. Foram carne para o canhão que nos devastou. Eles não são culpados. São vítimas. O nosso presente é o seu futuro.
terça-feira, 12 de agosto de 2008
União dos Sindicatos do Porto repudia despedimento de jornalistas do PJ
Em comunicado, aquela estrutura da CGTP manifesta ainda a sua "profunda solidariedade" aos trabalhadores despedidos, considerando que a forma como foram tratados é sintomática de uma situação que se tornou "habitual nos mais variados sectores de actividade, onde a arrogância e prepotência patronais impõem as maiores arbitrariedades, insensíveis aos dramas humanos e sociais que as suas decisões provocam".
"A União dos Sindicatos do Porto /CGTP-IN denuncia estes comportamentos inaceitáveis num regime democrático que se vai esvaziando lentamente porque o carácter predador do capital assim o impõe", refere o comunicado.
A USP apela aos trabalhadores de "O Primeiro de Janeiro" e de todas as empresas do distrito para que "resistam e lutem pelos seus empregos e direitos". A anterior directora do jornal, Nassalete Miranda, anunciou, no final de Julho, que "O Primeiro de Janeiro" cessaria a sua publicação durante o mês de Agosto "para modernização em termos gráficos e de conteúdo".
No dia seguinte, os trabalhadores do jornal receberam cartas da administração que extinguiram os seus postos de trabalho por reestruturação da empresa detentora do título. Nesse mesmo dia, no entanto, a empresa Fólio - Comunicação Global, Lda, proprietária do jornal, colocou nas bancas uma nova edição do diário portuense produzida pelos 10 trabalhadores do Norte Desportivo, suplemento desportivo das anteriores edições do centenário jornal do Porto.
in Público
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
PS quer "castigar exemplarmente" as ilegalidades
O deputado socialista Fernando Jesus enviou uma carta aos trabalhadores de «O Primeiro de Janeiro», onde critica o «comportamento inqualificável dos proprietários do jornal na forma como conduziram o despedimento de jornalistas e trabalhadores deste centenário matutino», refere a Lusa.
O parlamentar, que é o coordenador dos deputados socialistas eleitos pelo Porto, pediu às autoridades competentes, que fiscalizem a forma como os jornalistas foram despedidos.
Fernando Jesus apela «a todas as entidades públicas com responsabilidades no cumprimento da legalidade, designadamente à Inspecção-Geral do Trabalho, que não deixará de acompanhar este lamentável caso com o interesse e atenção merecidos, tomando as medidas adequadas, visando castigar exemplarmente eventuais desvios à legalidade, garantindo assim o cumprimento das obrigações e salvaguardando todos os direitos dos jornalistas e trabalhadores».
Para o deputado, é «realmente muito doloroso verificar como os proprietários dum jornal com o historial e pergaminhos deste matutino, por razões ainda não totalmente esclarecidas, têm o despudor de tratar os seus trabalhadores com atitudes que atentam contra todos os valores da dignidade humana».
Segundo Fernando Jesus, os proprietários do jornal «acabam de manchar de forma indelével o nome e o prestígio que o Janeiro granjeou ao longo de mais de um século no panorama da imprensa portuguesa».
O que diz Pacheco Pereira
O Comércio era muito popular a Norte, no Minho, no Douro, pela rede muito fina que tinha de correspondentes locais, cujas notícias são muitas vezes a única maneira de esboçar uma história local para pequenas vilas e aldeias. O Janeiro, pelo contrário era uma instituição respeitável, muito parecido com a cidade do Porto, no seu trajecto de jornal liberal, burguês, moderadamente oposicionista, ligado aos interesses industriais do Norte e ao comércio portuense que servia a cidade e o seu hinterland duriense.
Era também (aqui com o Comércio cuja página literária rivalizava com a do Janeiro) um jornal com uma página literária controlada por gente ligada à Presença na qual se podiam encontrar, no meio de uma coluna amarela e vermelha que lhe dava cor, excelentes artigos sobre livros, ideias e correntes.
Havia também notícias, uma página para os cinemas e os teatros em que se podia perceber que filmes havia e que tipo de filmes eram, e na última página o “Reizinho”, o “Príncipe Valente” e o “Coração de Julieta” (que também aparecia em tira no corpo do jornal), numa secção de banda desenhada igual à dos grandes jornais americanos.
Se isto não era um jornal a sério, eu não sei o que é um jornal a sério. Por isso, parte de mim vai com o Primeiro de Janeiro para o túmulo do tempo, e tenho dificuldade em identificá-lo com aquilo que se publica hoje com o mesmo título. Mas a vida é assim".
José Pacheco Pereira
in Abrupto
Assaltado e metafórico
Eduardo Costa, o inefável proprietário de O Primeiro de Janeiro, tem uma capacidade de escrita inesgotável. Leiam o artigo que se segue, da sua autoria. Liguem o detector de metáforas e associem este artigo ao despedimento colectivo. Umas notas: ele teve de mudar as fechaduras do jornal, para impedir que os jonalistas do Janeiro entrassem "em sua casa" e os computadores continuam no jornal... Os assaltantes são os jornalistas. Esses ladrões falharam... Despede-os e ainda goza com eles...
"Assaltado. Assaltaram-me a residência. Rebentaram a fechadura. Remexeram gavetas, desmancharam camas. Surpresa das surpresas: não levaram nada! Estranhei! Um amigo esclareceu: eles andam só à procura de ouro e dinheiro. Não querem mais nada! Vendem-nos a quem funde estes objectos para ouro maciço. Assim percebi a razão de me deixarem computadores, relógios, aparelhagens, etc. Simpáticos. Não me estragaram nada, à excepção da fechadura. Claro que tenho um sistema de alarme. Mas, como nunca havia sido assaltado e vivo em prédio com sistemas mínimos de segurança, tinha a atitude de facilitar. Enquanto me lembre desta, vou ter mais cuidado. Depois da casa roubada, trancas à porta! Talvez também ponha um letreiro a informar aqueles que se dedicam a essa actividade: “juro por minha honra que nesta casa não vive nem mulher nem ouro e dinheiro só algumas moeditas. E os cartões de crédito andam comigo”! Assim facilitava a vida aos ditos cujos e poupava no arranjo da fechadura! A atitude simpática de não me estragarem nada, lembra-me que podemos estar a reviver um bom hábito que os larápios num passado muito distante tinham e que representava uma espécie de código de conduta: quando assaltavam carteiras, remetiam por correio os documentos pessoais! Uma coisa se percebe: talvez por uma boa atitude das forças de segurança, não são muitos os casos de assaltos, atendendo à dimensão dos problemas sociais que atravessamos. Ou talvez, com tantas soluções para sistemas de segurança, provavelmente a vida dos amigos do alheio também não esteja facilitada. Nem para estes a vida parece facilitada."
Eduardo Costa, in Correio de Azeméis
domingo, 10 de agosto de 2008
Mancha no nome e no prestígio do 'PJ'
Cara Carla Teixeira,
Não posso deixar de manifestar, por seu intermédio, a todos os jornalistas e trabalhadores de “O Primeiro de Janeiro” a minha sentida solidariedade pelo comportamento inqualificável dos proprietários do jornal, na forma como conduziram o despedimento de jornalistas e trabalhadores deste centenário matutino.
Na verdade, estes senhores acabam de manchar de forma indelével, o nome e o prestígio que o “Janeiro” granjeou ao longo de mais de um século, no panorama da imprensa portuguesa. É realmente muito doloroso verificar como os proprietários dum jornal, com o historial e pergaminhos deste matutino, por razões ainda não totalmente esclarecidas, têm o despudor de tratar os seus trabalhadores com atitudes que atentam contra todos os valores da dignidade humana.
Apelo a todas as entidades públicas com responsabilidades no cumprimento da legalidade, designadamente à Inspecção Geral do Trabalho, que não deixará de acompanhar este lamentável caso com o interesse e atenção merecidos, tomando as medidas adequadas, visando castigar exemplarmente eventuais desvios à legalidade, garantindo assim o cumprimento das obrigações e salvaguardando todos os direitos dos jornalistas e trabalhadores.
O PS, pela voz do seu Presidente da Federação, Renato Sampaio e o Secretariado Distrital do PS, por intermédio da Isabel Santos, já tomaram posição sobre a vossa lamentável situação.Na qualidade de Coordenador Distrital dos Deputados do PS, também não podia deixar de lhe enviar esta mensagem de solidariedade, solicitando-lhe que a divulgue da forma que considerar mais útil e eficaz.Solidários cumprimentos,
Fernando Jesus - Coordenador dos Deputados do PS/PortoPorto, 10 de Agosto de 2008
in Mentes Despenteadas
Empregadora do 'Janeiro' registada em morada falsa
A garantia é dada pelo dono do espaço onde, outrora, funcionou um stand de automóveis e que se encontra fechado há anos. Já na nova morada indicada pela Sedico, segundo informação constante num papel afixado na porta da redacção do Janeiro, ninguém vê os funcionários há duas semanas.O caso tem contornos estranhos. Segundou apurou o DN, a Sedico encontra-se registada na Conservatória Comercial do Porto como tendo a sua sede no rés-de-chão do número 8 da Rua Caminho do Rego. Numa das fachadas do espaço encontram-se os contactos para a venda ou aluguer do espaço.
O DN telefonou e falou com Mário Pereira, o proprietário. Questionado sobre quando estivera a Sedico ali instalada, este responde que nunca. "Há uns anos, dois ou três, fui contacto por esse senhor da Sedico [José Pereira Reis] para lhe alugar o espaço", conta. Mário Pereira diz que procurou saber quem era o interessado e, perante as informações recolhidas, decidiu não aluguer o espaço.Contudo, para sua surpresa, "passado uns tempos começaram a chegar cartas para a Sedico". "Ele tinha dado a morada de lá, sem ter alugado aquilo", acrescenta Mário Pereira. Durante algum tempo, e porque não tinha o contacto de José Pereira Reis, foi devolvendo as cartas aos correios. Um dia cansou-se. "Comecei a mandar tudo para o lixo", diz.
Há cerca de um ano as cartas deixaram de chegar. É nessa altura que, segundo alguns moradores, a Sedico passou a ocupar o rés-de-chão do número 715 na Rua do Taralhão, também em Gondomar. Porém, dizem, "já não se vê ninguém para aí há duas semanas. Não sei se estão de férias", diz uma vizinha. Que acrescenta que o espaço ocupado "pelos senhores de O Primeiro de Janeiro é alugado".
Esta morada é a que a Sedico indica como local para qualquer contacto, segundo um papel afixado na porta da redacção de O Primeiro de Janeiro. No escritório, junto à porta de vidro, são visíveis vários avisos de recepção de cartas. Alguns das cartas que despediram os 32 jornalistas do Janeiro e que se encontram endereçadas à Sedico, mas para a morada da Rua Caminho do Rego, número 8.
Na sexta-feira, vários jornalistas de O Primeiro de Janeiro foram a esta morada para obter dos responsáveis da Sedico uma indicação sobre o pagamento de salários em atraso e indemnizações. Porém, também eles foram confrontados com as portas fechadas. Situação que tanto os trabalhadores como o Sindicato de Jornalistas condena.
O DN tentou contactar a Sedico, mas não conseguiu descobrir qualquer contacto da empresa.
in Diário de Notícias